Urso de peluche de João Varela de Matos


Urso de peluche



Eu e tu percorremos um caminho tão longo, tão sinuoso, tão repleto de quartos escuros. Passei demasiado tempo a teu lado naquele quarto. No teu quarto.
Ofereci-te um urso para que não ficasses só, e tu fizeste dele o teu melhor amigo. Até ao dia em que decidiste que eras adulta demais para o seu abraço.
‘Fecha a janela’, dizes. E eu, que nunca gostei de janelas fechadas, fecho-a. Para mim, as janelas são como as pessoas e as pessoas são como as janelas. Fecham-se umas, abrem-se outras.
Lembras-te dos nossos passeios junto ao rio? Fazia sempre tanto frio, um frio cortante, sufocante, um aperto no coração.
Esses passeios eram a minha janela para a vida.
Volta, urso. Abraça-me.
Não quero mais ser adulto.

João Varela de Matos

1 comment:

Anonymous said...

Estimados Amigos:
Este Senhor é formidável e genial.
Li o que podia ler e fiquei a saber o o que era o verdadeiro talento.
Certas partes da leitura tem pensamentos arrojados, mas muito belos e de delícia.
Vou ler o livro.
PARABÉNS, à Editora e ao seu extraordinário autor.
Com elevadíssimo respeito e estima.
Gosto.
Sempre a considerá-los.

António Pena Gil