No voar do tempo
Somos inextinguível até desaparecermos. Vivemos na vida confortável de termos quem amamos ao nosso lado, mas só estamos a delongar o tempo para o dia em que tudo culmina. Tenta-se encontrar razões para “isto” que não faz sentido. Que lugar é este do mesmo encerramento?
É uma dor que alcançamos passar e que não explica aquilo que vivenciamos com a pessoa. Continua-se a ter medo de entrar num lugar que não conhecemos, porque no fundo do nosso ser jamais deixamos de ter saudades. É uma porção exacerbada de sofrimento que, por vezes, chega-se a pensar que somos capazes de fazer algo de mau.
Agora todos os dias em que não tivermos mais serão todos os dias o vazio que vamos aglomerar em nós. A realidade da vida já todos sabemos e, por todos sabermos, ignoramos esse facto inconscientemente, pois ainda não cessou em nós. É preciso um sobressalto para descortinarmos o valor das coisas, aí ficamos reduzidos a pedaços e parece que tudo deixa de ser a compreensão.
Somos o tudo e o nada, um excelente oximoro, em que as coisas se difundem do inteiro para uma breve insignificância. Deixa-se de conseguir falar, como se extraíssem as nossas cordas vocais, em que já nada merece as palavras porque tudo levaria a recriar aquela dor profunda e imensa.
Em momento algum da vida dá para congelarmos as emoções e muito menos no instante em que deixamos de respirar. Não é possível prometer – “nunca te abandonarei” – pois só o que é para sempre finda num inferior de vida, aquele em que nunca estamos preparados para assistir. É a peça de teatro que mais medo temos de entrar.
Chega um momento, aquele momento, em que temos que parar de procurar. Por isso, a nossa dor será sempre maior do que a dos outros, essa não a partilhamos com ninguém é somente e só, nossa. Vive e produz-se em nós.
A dor é um sentimento que nos cala a boca e onde o coração vem para fora falar em gotas. É o sofrimento mais silencioso e choroso que lembra a memória de quem amamos.
“Sinto a falta de ouvir a sua voz a dizer que me ama.” – Nunca ninguém se pode apaixonar pela primeira vez duas vezes.
Juliana Gomes
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