PÓ DAS ESTRELAS
Ontem, no final de mais um dia, aconchegada pela companhia e inundada por um sentimento de bem-estar, ela olhou para o céu estrelado e, embalada por questões profundas e antigas, disse em voz alta, mais para si mesma do que para ele:
- Antes de nós não existia nada e depois também não existirá.
Na viagem de regresso a casa tinham vindo a discutir uma nova ideia para um livro, sobre a vida de uma sociedade, como a deles, num futuro sem sol. A partir daí, foi fácil perderem-se em reflexões sobre a sua existência.
Ela sentia-se cada vez mais tentada a aceitar que todos os Homens, e todos os que não o são, mas que têm a capacidade de o fazer, questionaram, questionam e irão questionar infinitamente, em vão, o significado do universo. A procura sem fim de um sentido maior seria, ela mesma, o propósito.
Quanto a ele, menos ansioso e mais tranquilo, ainda lutava para entender por que razão as pessoas tornavam complicada a sua breve passagem no mundo. Os conflitos pareciam-lhe insignificantes perante a imponência do céu azul-escuro que os abrigava.
O momento de silêncio entre os dois foi confortável e não se alongou, sendo ela a primeira a deixar-se assentar na realidade. Colocou a sua mão sobre a dele, olhou-o nos olhos, ainda imersos em imagens dos confins da mente, fora do alcance da visão, e preparou-se para abrir a porta de casa. Porém, antes de o fazer, ele despertou com o toque e, com um sorriso disse:
- Somos todos pó das estrelas. Tudo é pó das estrelas.
Maria João
2 comments:
Tão Bonito!
<3 minha musa Felina, bonita és tu :)
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