Momentos
Sozinha na cidade, vazia, silenciosa, danço para ti, canto para ti e gosto de sorrir para ti. Fica mais um pouco, não desapareças tão cedo, abraça-me. Consegues sentir-me? Consegues ouvir o silêncio entre nós? Porque será que é tão difícil fazer-te ouvir aquilo que soa dentro de mim?
Olha para mim e diz-me que a multidão está longe, diz-me que amanhã está longe, que a saudade ainda dorme, diz-me que vais esticar a felicidade…
Deste-me a mão e sorriste, caminhámos longas horas pela cidade vazia, sem pensar no tempo, sem pensar no que nos fazia estar ali, no que o amanhã nos iria trazer. Contaste-me que aprendeste a amar os momentos, a amar as pedras da calçada, as praias desertas e o perfume do amanhecer.
Todas as pequenas coisas que tanta importância têm, mas que nem sempre reparamos que existem. Pequenas grandes coisas como o momento em que nos conhecemos, o momento em que senti a tua ausência mesmo sem estar sequer longe de ti. Eu sabia que iria sentir a tua falta, eu sabia que a vontade de que aquele momento fosse eterno ia pesar-me. O tempo ia doer-me.
Sempre tive medo de me aproximar demais das pessoas, tinha medo, construía castelos de areia e de lama a minha volta para que ninguém chegasse a mim. O medo era grande e não queria sofrer, mas sofria sempre, porque deixava as pessoas partirem mesmo antes de chegarem. Foi então de aprendi a deixar as pessoas entrarem na minha vida, sem castelos de areia, sem medos, sem amanhãs. Aprendi a deixa-las partir em liberdade, e depois o vazio era menos vazio.
Amanheceu e partiste para sempre naquele comboio sem destino…
Hoje tenho comigo todas as pessoas que partiram, todas as que ficaram, todos os momentos partilhados, e por isso hoje sou uma pessoa melhor porque libertei o medo da saudade, a ilusão de que tudo seria meu para sempre.
Texto Joana Rodrigues
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