Egoísta de mim, de Marta Silva Pereira




Hoje apetece-me nada!
Nada, mesmo nada!
Quero acompanhar-me da inércia e alugar a solidão.
Sussurrar para dentro e tagarelar em monólogo.
Apetece-me ouvir o silêncio e jejuar nos pensamentos…
Ah! Os pensamentos…julgam-me de forma tão invulgar e trasladam o eco das emoções…soubessem eles a ausência que lhes imponho…
Quero o vazio, quero!
E em nada vejo mal em querer-me só para mim!
Estou egoísta.
Hoje, mas só por hoje, quero preencher-me do interior e gargalhar em uníssono com as vozes que deambulam sobre mim!
Quero que o estado de fadiga mental escasseie e me liberte dos empecilhos audíveis!
Traço o caminho,
Marco com passos fortes o chão que piso
Olho para trás e questiono se as marcas justificam o caminho
Tremulamente, quebro num breu que apenas me deixa ver sombras
Deixo-me embalar e amarrotar no seu emaranhado.
Confundem-me em distracções os seus movimentos
Mas, à parte disso nada me distrai de mim!
Um suspiro determinado assalta-me
Aligeiro os passos pesados que me baralham
Sugiro-me à acalmia que tão sábias palavras me profere
Reconheço este egoísmo que atravessa o meu olhar sem se apresentar
Consigo espremer-lhe o desgosto e lapidar-lhe o dissabor!
Que gosto a fel na boca me surge.
Não gosto do amargo sabor que permanece sem que eu o permita.
Descanso.
Padeço de uma inquietude calma aos olhares discretos que surgem camuflados de curiosidade.
Desfaço-me em cortejos sublimes e fito-os tornando-os encolhidos na sua expressão.
Apraz-me viver na utopia que crio à minha volta,
Num semblante genuíno que apazigua o sentimento que em mim exagera a dor
É habitante da minha garganta o nó que teima em manter-se
Porque chora incessantemente aquele que vive de amor!
E por isso, só por hoje quero ficar comigo, no egoísmo anónimo e são que me completa!

Marta Silva Pereira

1 comment:

hugo said...

Há dias assim...excelente descrição de momentos na vida em que temos e devemos ser egoístas.