Ia a caminhar de forma descontraída no passeio, quando a viu, do outro lado da rua.
Era ela, tinha a certeza. Apesar de já ter passado tanto tempo, sabia que era ela. A mesma segurança no andar, o porte altivo e elegante, o cabelo castanho, meio ondulado, a bater-lhe nos ombros. Talvez estivesse um pouco mais forte. Sim, sem dúvida, mas não lhe ficava mal.
Pensou em gritar-lhe o nome, bem alto. Correr na sua direcção e abraçá-la, sentir-lhe o cheiro do perfume, a suavidade da pele, ouvir-lhe a voz, vê-la sorrir para ele.
Há tanto tempo que não lhe via o sorriso!
E depois, ela olhava para ele e acariciava-lhe o rosto, perguntava-lhe na sua voz doce, como é que ele estava, e ele dizia-lhe que agora estava bem porque estava com ela. Porque, finalmente, podia tocar-lhe outra vez, matar toda a saudade que tinha dela, suprimir o desejo que sentia e que calava todos os dias. Ia poder dizer-lhe que era ela que procurava em todas as mulheres que tinha tido, sem nunca a encontrar. Que tinha percebido que era ela a mulher da sua vida, no dia em que a perdera. No dia em que em vez de dizer que a amava, a deixara sozinha, por cobardia, por ter medo de sufocar de tanto amor que sentia.
Ia dizer-lhe que tinha morrido em vida por ela, que se afogara em braços alheios à procura do calor dela e que acordara sempre gelado, envolto em corpos frios, de faces sem rosto e de formas difusas. Finalmente ganharia coragem para lhe pedir perdão. Sim, iria ajoelhar-se perante ela e pedir-lhe perdão, depois beijar-lhe-ia as mãos, a seguir, levantar-se-ia e beijar-lhe-ia os lábios macios, quentes, vermelhos, da cor do sangue que agora lhe fervilhava nas veias.
Iria sussurrar-lhe ao ouvido palavras incoerentes e doces que só os apaixonados conseguem dizer, iria falar-lhe de coração ao coração, afagar-lhe os cabelos, cingi-la contra si, apertá-la com força, fundir-se com ela para sempre.
Depois…depois levá-la-ia para uma cama de pétalas de rosa e amá-la-ia sem pressa, sentindo cada centímetro do seu corpo a moldar-se ao seu. As suas unhas a escorregarem-lhe na pele das costas, enquanto as pernas o envolviam, como cobras ondulantes, cheias do pecado original.
Estremeceu, como se já sentisse nele o poder da magia dela.
Nunca a esquecera, nunca!
Amava-a, ia acabar por definhar da falta dela, se ela não voltasse.
Entreabriu os lábios, ganhou coragem e perguntou-lhe:
- Perdoas-me, não perdoas? Voltas, não voltas?
À sua volta, conseguia sentir a agitação. As pessoas que passavam por ele, apressadas. O barulho dos carros, das motas, das buzinas.
Abriu os olhos devagar, deixou cair os braços que, mais uma vez, apenas abraçavam a sua própria solidão.
Só lhe respondeu o silêncio.
Irene Vaz
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