Ancoradouro, de Natacha Caldeira


É densa a neblina presente no meu olhar quando, absorta nos meus pensamentos, vagueio pelos lugares trágicos, dos naufrágios da minha tão intensa e avessa vida. Não são as lágrimas, sempre presentes companheiras da minha solidão, que me turvam a vista, com o seu toque suave e salgado, que me sulcam o rosto com agrado, lavando-me a alma e afundando as tristezas no mais profundo dos mares do meu Ser - a minha Alma, não! São sim as ondas daquele Mar bravio, que me salgam o corpo em abandono, e me transportam, cega na minha entrega, no vogar do seu embalo, para aquele ancoradouro de sonhos. 

Por vezes, rio-me insana das ironias que o destino me traça, como as amarras de uma barcaça ancorada no cais dos sentidos onde, ao mesmo tempo, sofro o sofrimento mais doído e onde sou tão imensamente feliz.. Atribuo às marés esse facto, porque eu livremente aporto e me deixo ancorar - e ali fico - sentindo apenas o doce ondular, e esperando, como quem nunca deixa morrer a Esperança, que a próxima viagem esteja quase a começar, e quando esse momento chegar, içarei as minhas velas e recolherei a âncora e levar-te-ei ao leme, física ou espiritualmente, porque tu estás sempre comigo, como um guia que me protege, me ensina e engrandece. 

Na nossa constante partilha, fazêmo-nos ancoradouro e barco, e vice-versa, como aquele abraço forte, que só quem tem alma grande sente, e só quem ama pode. 

Natacha Caldeira

7 comments:

ónix said...

Palavras maravilhosas, como só tu sabes escrever!
Abraço

gindungo (JA) said...

É A LINHA DO HORIZONTE
QUE DIVIDE O MEU LIVRO
EM CADA PÁGINA UMA FONTE
ONDE COMO,BEBO E VIVO.
Abraço dos tais

Unknown said...

Muito obrigada, Ónix e JA. As vossas palavras são sempre um incentivo!!

Beijos aos dois

ana p said...

Nat :) :)

Unknown said...

Mag :) :)

Bom "ver-te"!! Obrigada!!

Ivy said...

Belíssimo,Natacha!

Unknown said...

Obrigada, querida Ivete!!